Porto Sul vai ser redimensionado
 

Publicado em sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015 às 15:32

 
A queda vertiginosa nas cotações internacionais das commodities forçou um redimensionamento do projeto de construção do Porto Sul, um dos maiores terminais privados atualmente planejados para a costa brasileira.

A fim de manter o empreendimento em pé após uma queda acumulada de quase 55% no preço do minério de ferro desde o início de 2014, o governo da Bahia e a mineradora Bamin - principal interessada na operação concordaram em reduzir de dois para um o número de terminais que serão construídos na praia de Aritaguá, localizada no município de Ilhéus (BA).

Concebido com o objetivo principal de viabilizar a exportação do minério existente no sudoeste baiano, o Porto Sul enfrentou uma verdadeira maratona até obter, em setembro do ano passado, a licença ambiental que autoriza o início das obras. O projeto está encravado em uma região preservada de Mata Atlântica e com forte apelo turístico. Por causa da influência em terras indígenas, sua localização original teve que mudar.

Um dos principais opositores do empreendimento é o empresário Guilherme Leal, sócio da Natura e candidato a vice na chapa de Marina Silva na disputa presidencial de 2010.

Não bastasse o questionamento ambiental, o empreendimento também esbarra na letargia da Ferrovia de Integração Oeste¬Leste (Fiol), planejada para levar o minério das jazidas até o Porto Sul. A estrada de ferro deveria ter sido inaugurada em 2013, mas ainda está com menos de 60% de execução nas obras.
Se com preços satisfatórios para o minério o projeto do Porto Sul já andava a passos lentos, o tombo nas cotações serviu para reforçar os rumores de que o projeto teria “subido no telhado”.

A tese, contudo, foi rechaçada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), um dos principais entusiastas do projeto. Ele relatou ao Valor que após uma negociação levada a cabo no final de 2014, as partes envolvidas concordaram em reduzir, ao menos em um primeiro momento, o tamanho do porto.

Originalmente, a Bamin - empresa controlada por empresários de mineração do Cazaquistão - construiria um terminal exclusivo para o desembaraço do seu minério, ficando o governo baiano responsável por viabilizar o segundo ancoradouro, este voltado a cargas gerais, especialmente granéis sólidos. Com jazidas concentradas na região de Caetité, município que fica a 750 km de Salvador, a Bamin tem planos de explorar 20 milhões de toneladas anuais de minério de ferro.

No entanto, diante das incertezas em relação ao preço da commodity e da dificuldade do governo da Bahia em assegurar investidores para o segundo terminal, a solução encontrada foi a unificação das operações em uma só estrutura. “A mudança reduz a necessidade de investimento imediato”, explicou o governador, sem detalhar valores.

Rui Costa também acredita que a nova modelagem vai dar mais segurança a outros interessados em operar no Porto Sul. Atualmente, explica o governador, essas empresas dependem de algumas obras que seriam feitas pela Bamin, como a construção de uma ponte e de um quebra¬mar. “Era como se fizéssemos a licitação para construir o segundo andar de um prédio sem ter feito antes o primeiro”, exemplificou.
O novo projeto terá o banco BTG Pactual como estruturador. Uma sociedade de propósito específico (SPE) será criada tendo a Bamin como controladora. O governo baiano e as demais operadoras serão minoritários.

A expectativa é de que, com as mudanças, as obras comecem este ano. O cronograma original, que ainda está publicado no site da Bamin, previa a inauguração do porto em 2014.

Procurada, a empresa informou que só vai dar detalhes após anúncio oficial das mudanças, que deve ocorrer até o fim deste mês. O BTG não se pronunciou sobre o tema.
 
Fonte - Valor Internacional