Lava Jato: ex-gerente da Petrobras confirma fraudes em obra no Espírito Santo
 

Publicado em quinta-feira, 12 de março de 2015 às 14:43

 
Por Nerter Samora

O ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou que houve pagamento de propina nas obras da rede de gasodutos Gasene, no trecho entre Cacimbas – no município de Linhares, região norte do Estado – e Catu (Bahia). Em depoimento à CPI da Petrobras nessa terça-feira (10), ele confirmou o pagamento de comissões durante as obras avaliadas em R$ 3,78 bilhões. Ele também revelou a distribuição de propina a diretores da Sete Brasil, empresa constituída pela estatal para construção de navios-sonda, no contrato firmado com o Estaleiro Jurong Aracruz (EJA). Tanto as obras do gasoduto, quanto a definição pela vinda do estaleiro de Singapura ao Estado ocorreram no primeiro mandato do governador Paulo Hartung.

As revelações de Barusco colocam o Espírito Santo no centro do escândalo de corrupção na estatal. Nos meios políticos, a expectativa é de que o aprofundamento das investigações sobre a obra do Gasene e dos contratos da Jurong possa implicar políticos e empresários no Estado. Existe ainda a possibilidade de delação premiada de executivos das empresas investigadas, a exemplo do que ocorreu com o ex-gerente da estatal, que revelou detalhes do esquema em troca da redução da pena no processo criminal sobre a Lava Jato.

Durante o seu depoimento, Barusco confirmou a atuação de um “cartel de empreiteiras” em diversas obras da estatal. Questionado sobre o Gasene, o ex-gerente revelou que os quase mil quilômetros de gasoduto foram divididos em vários trechos, cada qual repartido entre empresas, como as construtoras Bueno e Galvão Engenharia. Segundo ele, a propina foi dividida entre ele e o ex-diretor Renato Duque, que ficava com metade, o restante era repassado para João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

Em relação à Sete Brasil, Barusco detalhou à CPI o processo de constituição da empresa, que geriu contratos no valor de US$ 22 bilhões com a Petrobras. Ele disse ter saído da estatal para virar diretor da Sete Brasil, que é privada, mas constituída com recursos públicos – do BNDES e fundos de pensão. Ele confirmou que o tesoureiro do PT, João Vaccari, pediu uma propina de valor muito elevado e que o repasse acabou reduzido em 0,1%.

Em janeiro deste ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) já havia apontado irregularidades nas obras da rede de gasodutos. Uma reportagem do jornal O Globo citou o relatório da área técnica do tribunal, que apontou indícios de superfaturamento, dispensa ilegal de licitação, inexistência de projeto básico e pagamento sem a prestação do serviço contratado.

Antes disso, duas outras obras da estatal no Estado foram destaque na imprensa nacional: a construção da sede administrativa da estatal, na Reta da Penha, em Vitória, e do Terminal Aquaviário de Barra do Riacho (TABR), em Aracruz, na região norte.

A primeira está sendo alvo de um procedimento no Ministério Público Federal (MPF) sobre a elevação no preço da empreitada, que saltou de R$ 90 milhões na previsão inicial para R$ 580 milhões. No caso do porto, o vice-presidente da empreiteira Mendes Júnior, Sérgio Cunha Júnior, confessou em depoimento à Polícia Federal o pagamento de R$ 5 milhões em propina.
 
Fonte - Século Diário