Agora é hora da Dilma governar ouvindo o povo
 

Publicado em segunda-feira, 16 de março de 2015 às 15:35

 
Para CUT, lideranças rurais e da juventude, recado sobre importância da negociação e da democracia foi dado ao governo e aos golpistas


Choveu muito durante a maior parte do ato que movimentos sociais promoveram na sexta-feira (13), na Avenida Paulista. Mas o destaque mesmo foi o mar de gente que partiu do coração financeiro da cidade até a Praça da República, no centro.

Para a organização do ato eram 100 mil pessoas. Segundo a PM, apenas 12 mil. Nada melhor, portanto, do que você ver esse vídeo (https://www.facebook.com/video.php?v=819006311498368) e tirar suas próprias conclusões. Certo mesmo é que entre o início e o fim da manifestação, a marcha demorava exatas 1h20 para passar e trazer bandeiras de várias cores: vermelhas, brancas, negras, multicoloridas do movimento LGBT e, claro, a bandeira do Brasil.

Afinal, uma manifestação que prega a democracia não pode escolher com qual roupa as pessoas devem ir.

Por volta das 18h, com a República cheia de gente e de água, algumas das lideranças dos movimentos fizeram um balanço de uma manifestação que terminou com a execução do Hino Nacional brasileiro e mostrou que o país não tem um único dono, muito menos nossos símbolos.

Para a CUT, a mobilização cumpriu o papel. Por um lado, deixou claro à presidenta Dilma que governar ouvindo o povo, e não apenas o Congresso, não é opcional. Por outro, que a democracia é um valor inestimável para os movimentos sociais.

“Os movimentos e, em especial, a CUT, demonstraram a capacidade de mobilização, de intervenção na conjuntura e de trazer pessoas para defender os seus direitos. A Central deu o recado de que agora precisa acabar o processo de terceiro turno para que a presidenta Dilma possa governar. Mas que governe ouvindo o povo, colocando em prática a agenda que ganhou as eleições. Temos que ter a valorização da negociação e do diálogo no país e o entendimento que o desenvolvimento só virá com melhores condições de vida e emprego para o trabalhador”, afirmou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.

Nas ruas desde a ditadura – Para o Secretário-Geral da Central, Sérgio Nobre, os trabalhadores não permitirão que a luta de milhares pela democratização do país escorra pelo ralo da intolerância.

“Se esse país conquistou a democracia foi por conta da classe trabalhadora. Muitas pessoas perderam a vida por isso e sob hipótese alguma a classe trabalhadora vai permitir retrocesso. O recado está dado e agora é continuar as lutas por nossos direitos no Congresso Nacional.”

Para o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, a reação que se manifesta em forma de tentativa de golpe retrata também interesses econômicos internacionais e unificados. A saída, define, deve ser sempre à esquerda.

“Todas as vezes em que se elege um governo do campo democrático e popular, os reacionários e golpistas se unificam para tentar derrubar. Já tentaram fazer isso na Venezuela, no Chile e estão tentando fazer isso na Argentina. Mas aqui não permitiremos. Porém, o governo precisa mudar alguns ministros neoliberais que nunca tiveram compromisso com a classe trabalhadora e derrubar as Medidas Provisórias (664 e 665) é um bom começo. Para o ajuste fiscal é preciso taxar as grandes fortunas”, propõe.

Petrobrás e os ataques – Segundo o secretário de Relações Internacionais da FUP (Federação Única dos Petroleiros), João Moraes, a hora é de mostrar quem realmente é a Petrobrás.

Para ele, a melhor forma de reverter a imagem negativa da empresa é o povo ir às ruas como fez em defesa da criação da estatal.

“Em 2014, a Petrobrás se tornou a maior produtora de petróleo com capital aberto do mundo, recebeu pela terceira vez o prêmio Nobel da indústria do petróleo, bateu recordes no refino, aumentou em 20% a produção de etanol e, em 8 anos, começou a produzir o pré-sal, enquanto outras petroleiras levam 15 anos. Não fosse o bloqueio dos grandes meios de comunicação, hoje o povo brasileiro teria orgulho da Petrobrás e cobraria, sim, a solução dos problemas, mas teria noção de que são muito pequenos diante da grandeza da Petrobrás”, definiu.

Juventude nas ruas...

Presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes), Vitória Barros, a Vic, avalia que a mobilização popular provou novamente a disposição para defender a democracia brasileira, a educação, a Petrobras e a reforma política. E é só o começo.

“Em abril, vamos fazer uma jornada de lutas em defesa de nossas pautas, como a desmilitarização da PM, o fim do extermínio da juventude negra, a reforma agrária e a reforma política para acabar com o financiamento empresarial para campanhas. Estamos nas ruas e estamos vencendo", avaliou.

Militante do Levante Popular da Juventude, Pedro Freitas, lembrou que o crescimento na participação da juventude nas ruas, desde junho de 2013, que culminou na revogação do reajuste da tarifa de transporte público em diferentes capitais do Brasil.

“Queremos uma reforma do sistema político através de uma constituinte exclusiva e soberana, que permitirá romper com o cerco político que as forças da direita estão fazendo ao governo federal com o apoio da grande mídia. E não queremos ajustes fiscais que penalizam os jovens, como faz as Medidas Provisórias (664 e 665), que dificultam o acesso ao seguro-desemprego num cenário em que a rotatividade atinge principalmente a nossa geração”.

Presidenta da UEE (União Estadual dos Estudantes de São Paulo), Carina Vitral, a mobilização é essencial para impedir corte em programas voltados à educação como o Prouni (Programa Universidade para Todos), o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e as cotas nas universidades federais.

“Os royalties do petróleo devem ser destinados para a educação e os 10% do PIB (Produto Interno Bruto) precisam ser cumpridos. Por isso, nenhum corte e nenhum direito a menos”, cobrou.

...e o campo também

Dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Paulo Rodrigues destaca que apesar de o governo manter uma dívida com a reforma agrária, o caminho não é o golpismo.

“Estamos nas ruas há 30 anos e não há 30 dias e vamos continuar defendo os interesses do povo brasileiro nas ruas e ocupações de terra e não aceitaremos retrocesso na democracia e nos direitos sociais.”

Para além da luta em si, a coordenadora do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) Liciane Andrioli, ressaltou o aspecto formador de uma ação gigantesca.

"Vivemos num contexto de acirramento da direita e de uma mídia manipuladora e é preciso sair às ruas pra discutir com a sociedade as nossas bandeiras de luta. Nosso movimento de hoje é diferente do que será o outro daqui dois dias, que representa uma burguesia raivosa que quer vender a Petrobras para os norte- americanos e quer retrocesso de direitos da classe trabalhadora e desmoralizar os movimentos."

No final de semana, as mobilizações mudam de foco, algo que não faz muito sentido para a maior parte do mundo. Prova disso é que, no final da noite, o diretor Executivo da CUT Júlio Turra concedeu uma entrevista a uma jornalista russa que lançou a seguinte pergunta.

“Por que só passaram 70 dias das eleições e o povo brasileiro quer tirar a presidenta?”. Depois desta sexta, ela já sabe que não é exatamente dos interesses do povo brasileiro que se trata.


100 mil exigem Mudança nsa Rumos da Política, mas sem golpe à Democracia

CUT e Movimentos criticam visão do governo sobre
economia e defendem direitos dos trabalhadores

O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, defendeu para 100 mil manifestantes - apenas na capital de São Paulo -, na tarde de sexta-feira (13), a revisão da política econômica em vigor e informou que a Central apresentará uma proposta alternativa que não onere os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.

“Ajuste fiscal e não investimento no mercado interno. Outros países do mundo adotaram essa receita e os trabalhadores perderam seus empregos. Nós temos uma classe trabalhadora organizada e classe empresarial bastante forte, se nós tivermos condição de fazer uma política econômica voltada para o crescimento, será bom para todo mundo”, destaca Vagner. “E essa turma que está aqui apresentará uma proposta de política econômica para o Brasil que leve em consideração o fortalecimento e o crescimento do Estado”, destaca.

Vagner defendeu fortemente os quatro eixos da manifestação dos movimentos sociais – Democracia, Direitos, Reforma Política e Petrobrás - e frisou que luta pela Democracia é também uma luta contra intolerância. Na manifestação desta sexta, era possível ver a pluralidade de grupos sociais presentes, que incluía mulheres, homens, crianças, indígenas, negros, brancos, população LGBT, camponeses e movimentos urbanos, entre outros.

Defender a Petrobrás é defender o Brasil
João Antonio de Moraes, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) lembra que a Petrobrás é fundamental para a economia brasileira e que os casos de corrupção não podem ser distorcidos e usados como forma de inviabilizar a estatal e entregá-la para multinacionais.

“São cerca de 1,5 milhão de empregos que giram em torno da indústria de petróleo. Entregar o pré-sal é um crime. O povo não permitirá que isso aconteça. Para nós, está muito claro que, quem cometeu coisa errada, se comprovado, seja punido. Mas paralisar as empresas, principalmente a Petrobrás, é um crime contra o povo brasileiro. E não permitiremos”, ressalta o direitor.

O discurso de contraposição às tentativas de enfraquecer a Petrobrás também é forte na fala de Cibele Vieira, coordenadora geral do Sindipetro Unificado SP. “Querem colocar o ônus que a burguesia tá criando para a classe trabalhadora e não permitiremos isso”, afirma.

“Este não é o único ato. Querem entregar o que restou da Petrobrás para a iniciativa privada, principalmente internacional.” , afirma Adi dos Santos Lima, presidente da CUT-SP. “Esse ato é para dizer aos que querem vender a Petrobrás que devem desistir”.


Passeata atrai apoio da população

Muita gente que não vestia vermelho juntou-se ao Dia Nacional de Luta

Um grupo de cinco amigos, em pé sobre o canteiro central da Paulista, diante do Conjunto Nacional, aplaudia a passagem dos manifestantes. Sem camisetas vermelhas nem bonés de sindicatos. “Eu achava que ia ser importante, mas não imaginava que ia ser tão grande, ter tanta gente”, comentou o médico Aytan Sipahi, morador do bairro do Campo Belo.

“Eu queria estar marchando junto, mas minha coluna não permite mais”, gracejou, ao explicar que havia reservado o dia para apoiar a manifestação. Ao seu lado, o professor aposentado Geraldo Moreira Prado completou: “Eu imaginava uma coisa diferente. Mas, com chuva e tudo, foi um sucesso absoluto”, referindo-se ao grande número de participantes.

Visivelmente entusiasmada, a amiga Cleusa Maria da Cunha Bettoni, também professora aposentada, contou que saíram de casa nesta tarde exclusivamente para apoiar a defesa da democracia e marcar posição contra as intenções golpistas de setores da oposição e da mídia tradicional. “Tem mais amigos nossos por aí, mas estão na caminhada. Eu estou achando isso lindo, uma demonstração de unidade e organização”.

Brasiliense na Paulista

Na esquina da rua Augusta com a Paulista,o estudante de Direito Alexandre Azevedo, morador de Brasília, aproveitou a visita ao pai na capital paulista para acompanhar o ato, do qual soubera pelas redes sociais. “Olha, eu estou aqui há mais de uma hora e não para de passar gente. Está muito grande mesmo”.

De fato, nossa reportagem checou com o efetivo da Polícia Militar que segurava o trânsito na Augusta o horário em que as primeiras fileiras da passeata, que partira do prédio da Petrobrás em direção à rua da Consolação, atravessaram aquele ponto: 16h20. A última coluna de manifestantes, compacta como as anteriores, passou por ali às 17h40.

Alexandre, que fez questão de dizer não ser filiado a qualquer partido, afirmou ser contra a ideia de impeachment. “Eu não concordo com a quebra do movimento democrático. Temos de preservar a Constituição como nossa regra normativa. A progressão democrática deve ser preservada como nosso maior patrimônio”.

Não longe dali, o segurança Nivaldo José aguardava, na porta do edifício em que trabalha, a chegada de visitantes. Enquanto recepcionava duas pessoas que acabavam de chegar de carro, falou conosco. “Pelo que estou vendo, estão defendendo a Dilma, né? A passeata está boa, bem organizada, pacífica. Olha, eu acho que se saísse a Dilma ia entrar uns caras aí que não são nada bons”.

Reforma política

Perguntado se acha que proibir doações de empresas e bancos para candidatos seria uma mudança importante, disse que sim. “Se o empresário patrocina a candidatura, depois de eleito o cara vai ter de fazer o que o empresário pedir, praticamente”. E aproveitou para criticar um traço do comportamento dos deputados e senadores: “Acho um absurdo eles poderem aumentar o próprio salário”.

Postada sob uma marquise, protegendo-se da forte chuva que caía naquele momento, a professora aposentada Heloísa Rios comentou que estava divulgando imagens e informações da manifestação para seus amigos no WhatsApp. “Não esperava que ia ser tão grande. Vim nessa, mas jamais iria à de domingo”, comentou. “Votei na Dilma na esperança de um bom governo. Acho que não está bom neste momento, mas temos de apoiar, pois as outras opções seriam piores”. Sobre a necessidade de reforma política, afirmou: “Tem de fazer, mas é preciso que parem de ficar empurrando com a barriga”.

Atento ao visor de sua máquina Nikon, o fotógrafo francês Didier Lavialle captava imagens que pretende oferecer à mídia de seu país. “Tem que defender o que tem de melhor, que é a democracia. Não vamos defender fascistas, reacionários, preconceituosos. A manifestação está sensacional”, comentou.

O temor de que ocorressem confrontos ou hostilidades não se confirmou. A grande presença da Polícia Militar é uma das explicações, mas não a única. Faixas e bandeiras nas janelas confirmaram o apoio das pessoas. Na rua da Consolação, quando um dos carros de som puxou o tema “Quem não pula é tucano”, vários trabalhadores e trabalhadoras à espera dos ônibus atenderam ao chamado e pularam sorridentes.

Layoff, mas sem desânimo

Operadora de máquinas na Mercedes-Benz, Genúsia de Araújo veio à Paulista usando o tempo livre de seu layoff (licença remunerada quando a produção de determinada empresa decai). Essa situação a deixa preocupada. “Eu me sinto pressionada. Não trabalho nem durmo tranquila, com receio de perder o emprego”, conta.

Mas esse momento de incerteza não a deixa furiosa com o governo federal? “Quem está no chão de fábrica sabe dos esforços que o governo tem feito nos últimos anos para defender o trabalhador e os salários e também para defender a própria indústria. Então valoriza. O que a mídia e a direita querem é privatizar, terceirizar. E isso não é bom para o trabalhador. Respeito o PT, respeito a CUT”, disse.

Zizia Oliveira, assessora sindical, entrevistada pela Rádio CUT, comentou, dirigindo-se aos jovens: “Nós temos uma Constituição desde 1988. É uma das melhores do mundo. Eu sugiro que a gente a leia, para saber a responsabilidade de cada esfera da administração do País. Seria muito bom para melhorar nosso Brasil”.

Já Ana Paula Melli, assessora de formação da CUT Nacional, mandou um recado à presidenta Dilma: “Como gesto de reconhecimento a essa nossa mobilização, ela poderia retirar as MPs que reduzem direitos trabalhistas e anunciar a taxação das grandes fortunas”.

 
Fonte - CUT Nacional