Aracruz Celulose (Fibria) acusa de roubo e consegue prisão de quatro quilombolas
 

Publicado em segunda-feira, 17 de agosto de 2015 às 16:21

 
Ubervalter Coimbra
A Aracruz Celulose (Fibria) acusou de roubo e conseguiu a prisão de quatro quilombolas da comunidade de São Domingos, em Conceição da Barra. Ironia: a empresa, que roubou as terras dos quilombolas durante a ditadura militar, e as explora desde esta época com plantios de eucalipto, contou na ação repressiva contra os quilombolas com efetivos do Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e a Corrupção (Nuroc), da Polícia Civil do Espírito Santo.

Equipados com armamentos de guerra, cerca de 30 policiais, alguns deles encapuzados, empregaram oito viaturas para se deslocarem de Vitória até o município, no extremo norte capixaba, para efetuar as prisões. Alguns quilombolas disseram que existem mais 24 mandados de prisão a serem cumpridos nesta ação contra os quilombolas.

Os presos na operação do Nuroc foram trazidos para prisões em Viana. O objetivo, segundo quilombolas, é dificultar a ação de defesa judicial dos presos. Estão na cadeia Altione Brandino, Antonio Marcos Cardoso, Domingos Cardoso e Hamilton Cardoso. A Polícia Civil também prendeu na ocasião uma pessoa identificada como Fernandinho, e seu irmão, que não moram no local.

Amigos poderosos

A Fibria Celulose S.A, antiga Aracruz Celulose, e a Suzano Papel e Celulose S.A., com latifúndios de eucalipto no Espírito Santo, são altamente predadoras. A Aracruz Celulose (Fibria), particularmente, tem amigos poderosos. Financia as campanhas dos políticos, inclusive e principalmente do governador Paulo Hartung (PMDB). E recebe favores em troca.

Um ex-diretor Aracruz Celulose (Fibria), Robinho Leite, é hartunguete de longa data. Aliás, desde que ambos cursavam a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Leite foi secretario de Hartung, depois de Renato Casagrande. Agora, no terceiro mandato de Paulo Hartung, é o subsecretario de Estado do Governo. Robinho Leite é um grande articulador no governo para atender a empresa onde foi diretor, e também a outras empresas.

Prisão

A prisão dos quilombolas foi realizada pelo Nuroc às 4 horas da madrugada desta quinta-feira (13), segundo relatam moradores, entre os quais Berto Florentino, Domingos Firmiano dos Santos, o Chapoca, e Maria Cardoso Florentino. Os policiais apresentaram mandado de prisão expedido pela Justiça Estadual em Conceição da Barra.

Nesta sexta-feira (14), carros com pessoas desconhecidas circulam na região. Os moradores não sabem se as pessoas são policiais ou se estão a serviço da Aracruz Celulose (Fibria), que espiona as comunidades. Estas pessoas procuram intimidar os quilombolas, mas os moradores afirmam que nada temem, pois lutam por seus direitos.

Depois que suas terras foram tomadas pelos quilombolas, os pouquíssimos moradores que resistiram passaram a trabalhar submetidos a venenos agrícolas, que a Aracruz Celulose (Fibria) aplica nos eucaliptais. A água e a terra estão contaminadas. E, na pratica, não há como produzir alimentos.

Restou o recurso de catar restos de eucalipto, que não servem para produzir celulose, e os quilombolas transformam em carvão. Era a prática que os quatro presos da localidade de Paraíso, em São Domingos, estavam realizando.

Os quilombolas relatam que a Aracruz Celulose (Fibria) concedeu autorização para cata de eucaliptos, mas depois a retirou. Como não resta alternativa para subsistência, os quilombolas continuam catando os restos de eucaliptos, produzidos arbitrariamente pela empresa nas terras que grilou.

Os quilombolas relatam que os que foram presos na atuação em favor da Aracruz Celulose (Fibria) estavam catando restos de eucaliptos em áreas de suas propriedades, reconhecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Terras na comunidade estão sendo objeto de ações do Ministério Público Federal (MPF), que exige sua devolução aos seus verdadeiros donos.
 
Fonte - Século Diário